Reaberto em 2015, com a mesma Gerência

domingo, 15 de julho de 2007

Mundos Sonhados - Bazaruto

Aproveitando os recentes artigos sobre Moçambique, e em particular a sua capital Lourenço Marques/Maputo, resolvemos que a honra da primeira sugestão dos "Mundos Sonhados" caberia a Bazaruto, esse lugar que encarna o Eden na Terra. Terra de contrastes, Moçambique mostra-nos o melhor e o mais terrível de África. Paraísos naturais são o pano de fundo de um país que, apesar das situações de carência, é um destino turístico cada vez mais em alta.

O arquipélago de Bazaruto é constituído por cinco ilhas, ao largo da provincia de Inhambane, setecentos quilómetros a norte de Lourenço Marques. Benguerua (antiga ilha de Santo António), Magaruque, Bangué e Santa Carolina, também conhecida como Ilha Paraíso, além da própria ilha que deu o nome ao arquipélago, estiveram ligadas ao continente até há cerca de 800 mil anos. A sua fauna e flora riquíssimas, que se manteve praticamente inalterada desde a separação, levou a que fosse classificado como Parque Nacional em 1971. É actualmente supervisionado pelo World Wildlife Fund for Nature que, juntamente com a South African Nature Foundation e o Endangered Wildlife Trust, também o financia. As cerca de 180 espécies de pássaros, as seis espécies diferentes de embondeiros, os crocodilos nos lagos de água salgada e as tartarugas justificam a intervenção destas organizações ambientalistas que estão também a ajudar na preparação da candidatura do arquipélago à classificação de Património Mundial.

Rodeada de azul, a ilha de Bazaruto, apesar de selvagem, transmite uma paz sem fim. Tal como o oceano envolvente, onde apetece mergulhar até à eternidade. Existem lugares que oferecem grandes perigos ao viajante. Distintos daqueles que surgem nos cabeçalhos dos jornais ou abrem os noticiários, mas não menos fatais. Bazaruto é mesmo um dos mais ousados. O risco que se corre ao visitar essa ilha abençoada é o súbito desejo de permanência, doença de que resultam imprevisíveis sintomas e efeitos secundários. O mais radical leva a que, num assomo de coragem, se abandone a civilização. O mais suave implica prolongados estados de melancolia e um sentimento crónico muito próprio das gentes lusas: saudade vitalícia.
Os 15 minutos de vôo que separam Moçambique do arquipélago são suficientes para uma transformação radical na paisagem. A África cor de terra desaparece, dando lugar a um azul indescritível e a um verde translúcido, vestidos pelo Índico consoante a profundidade das suas águas, dos corais que esconde ou dos bancos de areia que deixa descobrir. E é sem dúvida um novo mundo aquele que se descobre. Longe do turismo de massas e do cimento armado, com praias desertas e noites de silêncio estrelado, tendo por abrigo um céu maior que o mundo.

Todo o arquipélago de Bazaruto está classificado como Parque Nacional, usufruindo por isso de protecção especial pelas organizações World Wildlife Fund, Endangered Wildlife Trust e pelo governo moçambicano, que apenas permite a construção de dois resorts por ilha.

Comecemos pelo mais antigo, o Bazaruto Lodge, a operar desde há 13 anos na ponta Norte, tendo como máxima a valorização da simplicidade. Toda a estrutura – pouco mais de uma dezena de bungalows em madeira e colmo – enquadra-se bem na paisagem natural. Estrategicamente colocadas sobre as areias brancas com vista para o mar a perder-se no horizonte, as construções rústicas não dispõem de televisão, telefone, rádio ou outras mordomias menos condicentes com o ambiente selvagem da ilha. O objectivo é levar o viajante a abstrair-se dos hábitos diários e partilhar do melhor que a ilha tem para oferecer: as maravilhas de uma natureza selvagem, gastronomia simples, mas delicada e saborosa, à base de marisco e peixe fresco, e muita simpatia. É um 4 estrelas, com o "savoir faire" do grupo Pestana.
Seguindo uma política de implantação ecológica, mas substancialmente mais luxuosa e sofisticada, encontramos mais a Sul o Indigo Bay, constituído por cerca de vinte quartos em habitações normais e outros tantos bungalows debruçados sobre o mar. Dispostos entre a praia e um relvado colorido por magníficas buganvílias, estão equipados com ar condicionado, TV cabo, telefone, minibar e uma ampla varanda com vista diária para o pôr-do-sol. Apesar das diferenças, ambos os resorts oferecem na hora de adormecer o doce desmaio do Índico sobre a areia e, pela manhã, o chilrear estridente da passarada, escrupulosa na sua função de despertador matinal.

O descanso aqui é rei, principalmente porque o dia convida a inúmeras actividades que, se não permitem um momento de tédio, exigem boa forma e dão origem a um apetite devorador, saciado com mestria pelos chefes de cozinha em colaboração com o mar generoso de onde provém o peixinho e o marisco que fazem as nossas delícias. Mergulho, snorkelling, passeios a cavalo (estes só no Indigo Bay), de jipe, aulas de pesca, piqueniques na praia, no mar, sobre as dunas, na iminência de um pôr-de-sol inesquecível, ou mesmo encontros com crocodilos são comezinhas distracções do quotidiano. Percursos e experiências que, em momento algum, se assemelham a excursões barulhentas, mas sim a momentos de descoberta em convivência silenciosa com a cúmplice natureza, aqui na ilha parceira a tempo inteiro.

Resulta deste estatuto que Bazaruto, apesar constituir um dos lugares mais cobiçados pelos amantes da natureza e da boa vida, mantenha a beleza da sua paisagem natural intacta, ao longo dos seus 40 quilómetros de comprimento, e permita aos habitantes nativos preservar a sua cultura ancestral. São pouco mais de seis centenas (não chegam a 2500 em todo o arquipélago), provavelmente descendentes da tribo de pescadores Matsonga. Ainda hoje vivem do que conseguem retirar do mar, atravessando-o com redes, mesmo junto à praia, ou em pequenos dohws (embarcações típicas, movidas à vela e a vara) em busca de pesca mais grossa, como o marlim e o serra. Habitam em pequenas palhotas, mais ou menos próximas do mar, formando aldeias conhecidas pelo nome do chefe que lhes dita as leis. Vivem em outros tempo e ritmo. É tão provável que um dia, ao passar por perto, tentem comunicar consigo, como nem repararem na sua presença, permanecendo imóveis e absortos nos seus pensamentos. Na realidade, já assistem à chegada e à partida de forasteiros desde o tempo em que os árabes se serviam destas paragens para transaccionar marfim, pérolas e presas de rinoceronte.

À noite, faltando locais para onde ir, resta descansar (o dia começa e acaba muito cedo), ou então entabular conversa com os espíritos noctívagos que acabam, inevitavelmente, no bar dos resorts.

Onde dormir e comer
• Indigo Bay - Arquipélago de Bazaruto, Tel.: 00 258 23 91500/8, fax: 91510; http://www.indigobayonline.com/; Reservas pelo E-mail: mailto:reservations@raniafrica.co.zaou pelo tel.: 00 258 1 301618 (Maputo). Resort de luxo com 50 quartos (incluindo 24 chalets na praia e duas suites). Preços em quarto duplo standard, em regime de meia pensão, incluindo transferes no avião da Rani (capacidade: oito pessoas) a partir de 143 USD/por pessoa e por noite.
• Bazaruto Lodge – Não dispõe de telefone, pelo que as reservas devem ser feitas através do Rovuma Hotel em Maputo, pelo tel.: 00 258 1 305000 ou em Portugal através do 808252252, http://www.pestana.com/. Bungalows a partir de 232 USD (pensão completa).
Passeios
Os resorts organizam passeios de jipe e barco, actividades como mergulho snorkelling, pesca ou passeios ao pôr-do-sol no mar e nas dunas. O Indigo Bay proporciona ainda passeios a cavalo, óptimos para quem gosta de observar aves, e visitas à pequena ilha de Santa Carolina. Outra actividade inovadora consiste nos safaris marinhos, tendo o viajante todas as probabilidades de observar baleias, golfinhos, dugongos, espécie em via de extinção, e, quem sabe, tartarugas. É também possível ir até às ilhas de Magaruque e Benguerra mediante pedido prévio.
Para mais informações
Consulado de Moçambique em Portugal: Av. de Berna, 7, 1050-036 Lisboa, Tel. 217961672, 217973513, 217972734, 217972654Consulado de Portugal em Maputo: Av. Mao Tsé Tung, nº 519, Maputo, Tel.: 002581) 490150/ 1/

ps: Este artigo é dedicado à Ana Pedro, o rebento, nascido a 13 deste mês, do Pedro. Que a vida dela faça jus ao nome da rubrica, Mundos Sonhados. Tudo de bom, cachopa, e que tenhas melhor gosto clubista que o teu progenitor.

19 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre, feito com enorme mestria mas, fundamentalmente, com grande gosto e prazer. Está uma super-reportagem, mostrando um verdadeio paraíso terrestre. É um daqueles que apetece correr já para lá e ficar tempos infindos. Parabéns pela escolha.

ps: E parabéns ao papá babado. Associo-me aos votos de uma vida intensa, com sonhos cumpridos. Quanto ao gosto clubista, acho que sim, que ela terá melhor gosto do que o pai:)

Anónimo disse...

Para 1ª escolha, arrasaram. Portentosa terra, fantásticas fotografias, criando um desejo enorme em quem as vê. E Bazaruto, pela preservação que tem tido, longe da massificação turistica, deve ser um daqueles bocadinhos de paraíso que ainda vale a pena conhecer. Paulo, puseste-me a sonhar acordada.

p.s: Os meus grandes e sinceros parabéns ao Pedro. Não vos conheço, mas a relação que se tem estabelecido por aqui fez-me sentir contente com a notícia. Tudo de bom para a Ana Pedro.

Beijocas para ela

Anónimo disse...

De queixo caído! Pasmada! Com uma vontade irreprimível de voar para esse magnífico paraíso.
Qualitativamente excelente, quer pelo texto, quer pelas fotos que despertam enorme fascínio e inquietação. Sim, inquieta a alma ver um local destes e ficar a magicar como será, estar lá a passear naqueles imensos areais, ou refastelado num dos resorts, longe do stress e dsta agitação toda.

p.s: Parabéns ao papá babado. Tá a cuidar bem da cachopinha e, já agora, deixá-la lá sossegada com as preferencias clubistas:)

Beijos

Anónimo disse...

Mundos Sonhados é mesmo o nome apropriado para est nova rubrica. Pelo menos a mim, pos-me a sonhar:)
Espantoso pedaço de terra, talvez o mais próximo do Eden que temos no nosso planeta. Arrasaram logo no início.

p.s: Pedro, os meus sinceros parabéns pelo rebento. É sempre um momento único quando se traz uma nova vida a este mundo. Tudo de bom para ela...e para os pais, claro.

Anónimo disse...

Bem, bem, os meninos superaram-se. Magnífica escolha para inaugurar esta rubrica nova, com um destino que é um encanto e nos transporta para outro mundo. Excelente.

Parabéns ao papá e tudo de bom para a rapariga.

Anónimo disse...

Magnífico destino. Fiquei com água na boca, só de ler e ver as fotos. Agora imaginem só estar lá, nesse paraíso terrestre...

Anónimo disse...

Associome aos comentários. Tá tudo dito. Um local a preservar, longe daquele turismo massificado que existe, um pouco por todo o lado. Um do últimos redutos que exalta a natureza no seu estado primitivo, Bazaruto foi uma escolha de génio para esta vossa rubrica. Parabéns.

ps: Parabéns extensivos ao Pedro, pelo rebento. Milhões de votos de felicidade.

Anónimo disse...

Parabéns pela escolha, meus caros. Fabuloso destino, com umas praias de fazer inveja a qualquer destino mais cosmopolita. Óptima escolha de fotos, criando pequenos pedaços de encanto.

Parabéns Pedro. Calculo que agora terás mais do que te ocupar, pois as fraldas e afins não te darão descanso:)

Anónimo disse...

Que encanto de paraíso, numa conjugação perfeita entre a obra do homem e a natureza, num respeito mútuo que aumenta ainda mais a beleza de Bazaruto. Terra aficana, com aquele encanto único, numa extraordinária reportagem. Parabéns!

ps: Parabéns também ao novo papá e boa sorte para a família toda. Que a Ana Pedro tenha também ela estes mundos sonhados.

Anónimo disse...

Bela escolha, continuando nesse continente majestoso e cheio de magia. Adorei sobretudo aquela foto da praia, com o chapéu de sol. Que calma, que bálsamo para a alma.

ps: Parabéns ao papá, que deve estar orgulhoso da sua rapariguinha. Felicidades!

Anónimo disse...

Fabulosa trabalho de voces dois. Estou surpreso com a qualidade posta neste blog. Agora percebo o pk de não irem assiduamente ao Olhares.

ps: Parabens ao papai. Felicidades.

Anónimo disse...

Belo blog este vosso. Fotos fabulosas, mas isso nem é novidade, para quem vos conhece do Olhares. Conseguem aliar a isso uns textos magníficos, tornando o blog imperdível. Apesar de ser esta a minha primeira visita, fiquei desde já fã.

Pedro, parabéns pelo rebento. Feicidades.

Anónimo disse...

Então é por aqui que tens andado entretido? Belo blog, Paulo, com enorme qualidade. Sim senhor, está magnífico, aliando às vossas fotografias uns textos excelentes. Está feito com prazer e amor e quando assim é...

Pedro, os meus sinceros parabéns pelo rebento.

Anónimo disse...

Maravilhosa terra, excelente o artigo, a criar a necessidade em cada um de nós de lá ir, de percorrer aquelas praias. Fantástico.

Beijos, em especial para a Ana Pedro

Anónimo disse...

Fantástico destino. Quem dera ser uma das felizardas do euromilhões para viajar para locais destes. Belos textos, sempre acompanhados por fotos espantosas. Gostei bastante.

ps: Parabéns Pedro. Bem vindo a este mundo fascinante dos pais:)

Anónimo disse...

Portentosa escolha, logo para abrir as hostilidades. Excelente, como tudo aqui no blog. É mesmo um verdadeiro paraíso.

Anónimo disse...

Parabenizo ambos pelo fantástico trabalho neste blog. Tá maravilhoso, com uns textos k nos fazem sonhar e viajar, mesmo sem sair de casa. Otimas fotos tb. Gostei muito mesmo.

Anónimo disse...

Impressionante relato de um eden terrestre. Belo post, despertando desejo em todos nós. Amei essa terra longinqua. Hei-de la ir um dia.

Anónimo disse...

Adoro essa terra. E, para mágoa minha, apesar de ser moçambicano de cepa, nunca fui a Bazaruto. Que paraíso é, num texto cheio de paixão e, friso isso mais uma vez, de enorme profissionalismo.

Parabéns Pedro, por mais uma "viajante" deste Mundo.