Reaberto em 2015, com a mesma Gerência

sábado, 1 de setembro de 2007

Luanda by Ricardo Melo

O Post do Viajante deste mês transporta-nos ao Continente Africano, e esperamos nós, levará a que mais pessoas nos enviem relatos desse continente mítico, que para o bem e para o mal faz parte da experiência de vida de muitos dos nossos leitores. E é a esses que dizemos, mandem-nos relatos da África em que viveram à mais de 30 anos atrás... por certo que todos gostarão de a reviver, e certamente muitos, como eu, gostarão de a conhecer.

Bom, e sem mais delongas, vamos então até Luanda, pela mão do Ricardo Melo:

Tive a oportunidade de me deslocar em trabalho a Luanda, entre 20 de Abril e 3 de Maio de 2006. Não sendo propriamente um destino para onde se vá frequentemente (provavelmente foi a última vez que lá fui) não quis deixar de passar a oportunidade de, com algumas fotografias (muitas delas tiradas à socapa), mostrar a quem tem interesse neste País o que ele é no momento. A minha estadia resumiu-se a Luanda, com a maioria dos dias a serem passados no interior das instalações do operador de telecomunicações onde fui fazer uma instalação. Uma das raras excepções foi o Domingo, inteiramente livre, em que aproveitei para me juntar a um grupo de colegas e visitar Luanda e Mussulo, uma ilha (na realidade, é uma península) a 17 klm de Luanda.
Pelos relatos e conversas que tive com pessoas mais ambientadas com o historial da capital angolana, cheguei à conclusão de que ao longo da história recente, Luanda atravessou 3 fases distintas: a fase colonial, antes da independência, em que a cidade era próspera; a fase da guerra civil, logo após a independência, em que a cidade cresceu em musseques (os bairros da lata), enquanto os edifícios do tempo colonial se degradavam, e a fase actual, em que Luanda se vai reconstruindo, pouco a pouco.
Começam a aparecer novos arranha-céus, construídos pelas grandes empresas de construção civil portuguesas, as ruas do centro da cidade estão agora todas alcatroadas, o lixo, que antes abundava, começa a desaparecer das ruas. Começam também a aparecer os bairros sociais, procurando realojar os milhares de angolanos que vivem nos musseques, sendo estes destruídos.
Ainda assim, apesar de todo este alvoroço de desenvolvimento (pouco sustentado, na minha opinião), impera em Luanda o laxismo da população, a atitude de subsistência diária (apenas se trabalha o suficiente para se comer hoje, e amanhã logo se vê).

Para piorar a situação, a densidade populacional em Luanda é muito superior à desejável, e assim continuará, enquanto não se começarem a ver os investimentos que estão a ser feitos nas províncias, que são a única solução para o povo angolano. É nas províncias que se pode investir na agricultura e na indústria, e caso essas apostas sejam feitas em força, Angola pode tornar-se num dos países mais ricos de África, visto que tem recursos naturais e humanos suficientes para subsistir sem ter que importar o que quer que seja.

Em termos agrícolas, o clima e o solo angolano são perfeitos: praticamente tudo pode ser cultivado. A juntar a isto, as jazidas de petróleo e diamantes que vão aumentando de ano para ano, conclui-se que Angola tem um percurso facilitado pela frente, desde que se combatam os dois grandes problemas do país: a corrupção dos ricos e a falta de cultura dos pobres.
Falando da minha ida a Mussulo, há que começar por dizer que turismo é uma palavra que não existe no léxico angolano. Não existe qualquer tipo de estrutura turística neste País, à excepção de alguns bares e restaurantes que existem nas praias de Luanda, do Mussulo e em alguns locais mais recônditos na costa sul do país.
Para se chegar ao Mussulo há duas opções: a primeira, e a mais usada, é ir de carro até ao embarcadouro para o Mussulo, a cerca de 30 minutos de carro do centro de Luanda. Chegados lá, temos que aguardar pelo barco da praia para onde queremos ir.
Cada praia tem o seu barco que vai e vem com uma cadência de mais ou menos 30 minutos por percurso, sendo que a viagem de barco propriamente dita demora cerca de 20 minutos.
Chegados ao bar pretendido (no nosso caso o Bar-sulo), o que encontramos é de facto paradisíaco: uma praia privativa, com sombrinhas e espreguiçadeiras que são autênticas camas.
A água está sempre agradável, e é óptimo passar o dia a jogar vólei, intercalando cada set com u mergulho nas águas apetecíveis.
No final do dia fazemos o percurso inverso de volta ao embarcadouro, e cruzamo-nos com as lanchas e catamarans de ministros e empresários, que parecem viver numa Angola definitivamente à parte.
De volta a Luanda, só me restou desejar que o país volte a ter a beleza que outrora teve.

No próximo mês o Post do Viajante regressa à Europa e estreia-se em Itália, mais concretamente, Milão. Até lá!

(P.S.: Continuamos à espera de novos textos, e fotos para a foto do Mês!!!)

20 comentários:

Anónimo disse...

Faço questão de ser a primeira:)
Para mim, sem desprimor pelos anteriores, este é o melhor post do viajante, até à data. E repito, sem qualquer desprimor para a Ana e o Mauricio. Gostei bastante do texto e das fotos, num continente e um país que, como o Pedro afirma, diz muito a milhares de portugueses.

Bom fdsemana

Anónimo disse...

Olá a todos,

Partilho também da opinião da Maria Rosário. Li os posts todos e acho que este do Ricardo consegue ser mais profundo, dando-nos a conhecer o outro lado de Angola, feito de dificuldades, carências e pobreza extrema. Gostei bastante de o ler, para além de ter umas fotos que eu não desdenharia possuir:)

Beijos

Anónimo disse...

E julgo não subsistir dúvida. Aliás, quando enviei o meu post sobre estocolmo, sabia de antemão que ele não estava uma obra-prima. Ficou bom, pela operação de cosmética dos autores do blog, que transformaram um sapo em príncipe:)
Gostei muito desta aventura do Ricardo, destacando pontos menos turísticos, mas condizentes com aquilo que se sabe sobre Angola. Aliás, é do género dos artigos do Paulo sobre Moçambique. Beleza e pobreza, de mão dada.
Muito bom!

Beijos,

Anónimo disse...

Parabéns Ricardo, não só pelo excelente texto, mas pelo facto de, mesmo em serviço, te teres dado ao trabalho de interagires com uma cultura diferente, tirando conclusões sem preconceitos. Tudo decorado com fotos excelentes.

Gostei bastante. Venham de lá mais.

Anónimo disse...

Consensual, é isso que se pode dizer do artigo do Ricardo. Excelente, numa rubrica que se vê já ser um sucesso. As fotos, para além de excelentes, têm ali também um bom trabalho de edição, não é?

Abraço,

Anónimo disse...

Adorei mais esta viagem, a esse continente mágico, cheio de surpresas e encanto. É certo que das palavras do Ricardo se nota alguma desilusão, pela pobreza vigente, mas também encerram uma mensagem de esperança.

Parabéns Ricardo!

Anónimo disse...

Maravilhoso relato, num País que tanto diz a milhares de portugueses. Texto profundo, capaz de dar uma perspectiva diferente da do turista comum.

Excelente, Ricardo!

Anónimo disse...

Já está tudo dito. Destaco apenas a coragem na escrita, por parte do Ricardo, a capacidade de análise, revelando pormenores menos "cor-de-rosa" do destino, mas que nos dão uma ideia próxima do que deve ser a realidade daquele povo, martirizado por anos de guerra civil.

Parabéns Ricardo

Anónimo disse...

Mais uma prova do talento dos leitores do blog:)
Excelente a ideia da partilha de situações da viagem, aumentando assim os horizontes, com crónica excelentes, de locais diferentes. É a parte que mais gosto neste vosso cantinho, a par da foto do mês.

Beijos,

Anónimo disse...

Excelente, não fugindo da nota geral. Gostei particularmente das fotos mas, sinceramente, é um país que a mim não me atrai nada.

Bom fim de semana

Anónimo disse...

Não existe mum ditado qualquer que diz que não somos nós a escolher o destino da viagem, mas o destino que nos escolhe? Julgo que sim, e adapta-se a este caso. Uma viagem de trabalho deu origem a uma visão abrangente dos problemas que muitos paises africanos, ex-colonizados, atravessam. Parabéns ao Ricardo, pois o texto está bom.

Beijos,

Anónimo disse...

Bem, ao que parece, sou uma estrela:)
Fora de brincadeiras, só quero deixar um agradecimento sentido aos autores do blog, pela oportunidade dada, e a todos que leram, comentaram e gostaram. Faz bem ao ego:)

Abraços,

ps: brevemente enviarei novo relato

Anónimo disse...

Se não és uma estrela, para lá caminhas:)
Parabéns Ricardo e venha daí novo artigo.

Anónimo disse...

Hummm....pois....fica td dito e eu agora sem nenhuma tirada inspiradora:)
Associo-me aos demais para gritar um BRAVO RICARDO!

Muito bom, contribuindo para o enriquecimento do blog.

Beijos

Anónimo disse...

Fantástico texto, em mais uma viagem patrocinada pelos leitores. Comungo da opinião geral: o Ricardo está efectivamente de parabéns, por ter conseguido um artigo que vai mais além da mera apreciação turística.

Boa semana a todos,

Anónimo disse...

Parabéns Ricardo, pelo belo tema e pela sua explanação. Realmente interessante. Gostei das fotos. Venha de lá a próxima aventura.

Beijos,

Anónimo disse...

As dicas estão lá, o mais dificil será colocá-las em prática, sobretudo a erradicação da corrupção. É pena, pois Angola tem mesmo tudo, tal como Moçambique, para singrar. E essa descrição do Mussulo e da sua praia é elucidativa.

Bom texto!

Anónimo disse...

Uau, espetáculo Ricardo. Continente mágico esse, contado por você na 1ª pessoa com muito carinho, mas tb sentido crítico. De fato, muito bom post.

Anónimo disse...

Me gusta!:)

Parabéns Ricardo. You're the man!

Anónimo disse...

Aprendi muito